A escassez de mulheres interessadas em poupar e investir o próprio dinheiro foi o estímulo para que as jornalistas Elaine Fantini e Anita Delmonte criassem, no ano passado, o grupo Sovinas – Mulheres que Investem. O espaço, inicialmente uma comunidade no Facebook, vem crescendo e ganhando contornos na vida real, com eventos presenciais e trocas de experiência entre as centenas de investidoras que aprendem a cuidar de sua independência financeira. O Horyou blog entrevistou a fundadora Elaine Fantini, que fala sobre o cenário de investimento feminino no Brasil.

Sovinas no primeiro encontro do grupo

O que te motivou a criar o grupo Sovinas?

O grupo surgiu a partir de um reencontro com uma amiga de faculdade, que eu não via há mais de 10 anos, Anita Delmonte. Nós duas tínhamos começado a investir há pouco tempo e notamos que era muito difícil conversar com outras mulheres sobre investimentos porque nossas amigas não investiam. Ficamos incomodadas, porque estávamos amando investir e acreditávamos que mais mulheres também se interessavam pelo tema. Tínhamos que descobrir onde elas estavam. Daí, tivemos a ideia de criar o grupo, para reunir em um mesmo lugar mulheres que tivessem interesse sobre investimentos para trocar ideias e experiências. Assim, o grupo surgiu no Facebook em julho de 2017.

Por que você decidiu se concentrar no público feminino?

Nos concentramos no público feminino porque ele é o que menos investe no Brasil. Dos investidores da Bolsa e do Tesouro Direto menos de 30% são mulheres. E é um grupo que precisa investir, pois vivemos mais que os homens, ganhamos menos, interrompemos mais a carreira para cuidar de entes queridos, em muitos casos somos as provedoras da casa… Em diversas áreas vimos as mulheres se afirmando, em relação ao corpo e ao mercado de trabalho, por exemplo, mas do ponto de vista financeiro ainda temos um longo caminho a percorrer. O grupo quer ajudar cada vez mais mulheres a cuidarem melhor do seu próprio dinheiro. Afinal, não existe empoderamento com dependência.

Por que as mulheres investem menos que os homens?

Há uma questão cultural: por muito tempo a mulher foi excluída dos modelos econômicos e dos assuntos ligados a dinheiro. Há ainda sociedades que não permitem que a mulher tenha atividade remunerada. O homem sempre teve o papel de provedor da casa e por isso o dinheiro ficava sob sua responsabilidade. À medida que a sociedade evolui e a mulher passa a ocupar posições de trabalho, isso começa a mudar e a partir daí, ela passa a ter que lidar com essas questões. É nesse momento que aparecem os dois outros motivos que as mantêm afastadas dos investimentos: 1) menores salários. Muitas ganham apenas o suficiente para pagar as contas; 2) baixo nível de educação financeira. Diversas pesquisas conduzidas internacionalmente pela economista italiana Annamaria Lusardi mostram que a mulher é menos alfabetizada financeiramente. Com menos conhecimento, fazem piores escolhas para seu dinheiro.

Quais foram os momentos mais importantes do projeto?

A decisão em si de criar o grupo foi muito marcante e aos poucos ver o grupo crescer de maneira orgânica. E em 2018 tivemos um momento muito marcante, quando realizamos um evento presencial para comemorar mil Sovinas no grupo e foi muito legal. Foi um sábado caótico no Brasil, com greve e limitação de transporte e mesmo assim as mulheres estavam lá, interessadas, querendo saber mais sobre como lidar com dinheiro de maneira saudável.

Quais são os planos do Sovinas para o futuro?

Queremos crescer mais, realizar mais eventos, promover ações que estimulem as mulheres a pensar sobre investimentos, realizar parcerias com outros grupos e iniciativas para fazer a cultura de investimentos se espalhar entre mais e mais mulheres.

Horyou apoia as iniciativas de inovação social que ajudam o mundo a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nesta entrevista, destacamos o Objetivo 5: Igualdade de Gênero. Seja a mudança, seja Horyou!

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