Em 2007, as mídias mundiais descobriram que o Google começou a apoiar uma tribo amazônica em seus esforços contra o desmatamento ilegal, através da tecnologia internet. Foi um progresso impressionante para os Povos Indígenas. Nenhuma tribo tinha feito tal uso da web e das suas ferramentas para fazer ouvir a sua voz e defender a sua floresta. Esta tribo é o Povo Suruí. O seu carismático líder, Almir Narayamoga Surui, viaja pelo mundo extensivamente, participando em conferências internacionais para destacar o problema do desmatamento na Amazônia. Horyou teve o prazer de fazer um belo reencontro com o líder e de saber mais sobre a sua humilde e ambiciosa missão que visa mudar, conscientizar e promover a responsabilidade ambiental, social e econômica.
Version Française disponible ici English version available here
A imagem das comunidades indígenas no mundo está mudando. Que direção você gostaria de ver essas comunidades indígenas tomando daqui a 20-30 anos?
Nosso papel é trabalhar com a consciência para que tenhamos um mundo que evolui com responsabilidade: responsabilidade ambiental, social e econômica, usando a tecnologia como ferramenta de construção desses avanços, para transformar os modelos de desenvolvimento. Eu sou a favor de um desenvolvimento que pensa primeiro no ser humano, na qualidade de vida. Com o nosso trabalho eu espero que, em 20 anos, o mundo comece a seguir as trilhas que estamos implementando hoje.
Na sociedade ocidental moderna, o individualismo egoísta foi amplamente utilizado como um motor, um propósito para a existência. Qual é sua opinião a respeito dessa atitude?
Eu acho que o individualismo é um fator que pode estar destruindo a sociedade. Eu acredito que os pensamentos, os direitos e o respeito coletivo ainda nos podem salvar desta decadência. Eu não vejo outro caminho. Se temos opiniões diferentes, devemos pelo menos conseguir formar um consenso e criar ferramentas que possam nos mostrar o caminho, em função da capacidade de cada um.

Mais precisamente, no âmbito da tribo Surui, se por exemplo uma criança ou um indivíduo demostra egoísmo, qual é a resposta da tribo?
Em nossa tribo uma criança não irá agir com egoísmo (risos), não temos essa desventura. Se eu sou pai e eu mesmo sou egoísta, então a criança vai pegar esse exemplo de mim (risos). Como pais, devemos dar o exemplo em primeiro lugar ,em matéria de educação. Se o meu filho me vir em um comportamento nocivo, ele não entenderá que é errado e fará o mesmo. De modo geral, continuamos a ser facilmente influenciados pelo exemplo e conselhos dos nossos pais, e por isso que devemos ser cautelosos em nossas ações.
No que diz respeito aos adultos, cada um escolhe seus próprios problemas. É desta forma que entendemos as coisas na minha tribo. Se eu fizer algo de mau, este desvio irá me responder automaticamente, não precisamos de fazer nada que o retorno se fará sozinho. Aqueles que fazem mal aos outros, por exemplo, nós não podemos fazer justiça nós mesmos, será o tempo que se irá ocupar de o fazer. Se for eu mesmo a punir esta pessoa, ficarei contaminado com o seu crime e, de certa forma, eu me tornarei responsável. Aquele que faz realmente o mal, se ele estiver ao seio de uma assembleia, ninguém o vai aplaudir, todo mundo dirá “Quem é esse homem?” e sua própria vergonha o matará. Eu acredito que nada é pré-definido, o que eu devo fazer ou dizer. O que eu quero dizer é que o consenso nos indicará o que devemos mudar, corrigir, para que possamos atingir nossos objetivos. Seu eu digo que não estou de acordo e viro as costa a uma negociação, nunca poderemos corrigir nossos erros e progredir para um futuro mútuo e melhor.
Você é conhecido por ter feito a tribo Surui se modernizar, mais especificamente através da internet. Poderia dizer mais sobre este processo?
Nesses últimos anos eu analisei muito o sofrimento do meu povo. E decidi que meu povo Surui não seria vítima de todo esse processo moderno, e que nós iriamos participar das discussões, preocupações e propostas que fazem o mundo, a partir dos conhecimentos que temos sobre a floresta. Uma vez que decidimos esta visão, faltava definir o método e as ferramentas que iriamos precisar, ou seja, a tecnologia, a internet. Primeiro as pessoas precisam de saber quem nós somos, conhecer o lugar em que vivemos, quais são as nossas preocupações e a nossas propostas para problemas comuns. Dessa forma, as informações começam a chegar onde antes não chegavam. Então começamos a entender como elas podem ser exprimidas nessas discussões internacionais. Por exemplo, quando participamos em eventos como fóruns, simpósio, etc., as pessoas que nos convidam são pessoas que encontramos em eventos anteriores, são uma rede de comunicação que devemos apoiar e alimentar com propostas responsáveis, graças à internet.
Em 2007, um artigo figurou em inúmeras mídias anunciando que uma tribo da Amazônia (Surui) tinha recebido o apoio do Google para ajudar contra o desmatamento ilegal. Esta ajuda funcionou?
Sim funcionou, o território Surui está agora mapeado em 3D no Google Earth. Além disso, eles nos ajudam vindo treinar o nosso povo a usar suas ferramentas, a fazer mapas para postar no YouTube, etc. Essa conquista do nosso povo nos ajuda a comunicar com o governo brasileiro em termos de desmatamento [nota: via reivindicações circunstanciais, muito precisas e documentadas], e com o resto do mundo. Se o governo estivesse a cumprir o seu papel, não precisaríamos de fazer essas coisas.
Que mensagem de esperança você gostaria de transmitir ao mundo?
Você precisa acreditar que você é importante. Você deve acreditar que só você poderá mudar o mundo, porque ele não mudará por si só. Ele precisa do ser humano e o ser humano precisa dele. Esse é o caminho da mudança que temos que construir. Só dessa forma é que poderemos ter esperança de construir um mundo melhor para todos.
Escrito por Vincent Magnenat Traduzindo por Edriana Oliveira Major