Estudo bioclimático, um olhar necessário na arquitetura
* Marcos Cardone

Integrar o homem ao meio ambiente, causando o menor dano aos recursos naturais, tem sido um desafio para diversos setores, e com a Arquitetura não é diferente.
Encontrar soluções eficazes de sistemas construtivos, que levem em conta a sustentabilidade, ganha espaço nos conceitos de Arquitetura Sustentável, Verde ou Eficiente, que procuram realizar esta conexão com o meio ambiente, mas nem sempre seguem o mesmo caminho. E, neste contexto, temos uma grande oportunidade de fazer alterações impactantes, na maneira como projetamos e construímos instalações de assistência à saúde.
A Arquitetura Bioclimática é um bom exemplo desta diversidade. Seu principal foco é a relação com os fatores climáticos e com as peculiaridades da natureza, em determinada localização geográfica. A ideia é respeitar e agregar esses elementos à construção, para assegurar maior conforto para as pessoas e menores prejuízos para o meio ambiente. É encontrar o equilíbrio num projeto que considera os mecanismos naturais, aliados às técnicas e tecnologias que potencializam seus efeitos, a favor do bem-estar do indivíduo.
Esta linha de trabalho surgiu na década de 60, com os irmãos Victor e Aladar Olgyay, precursores dessas discussões e responsáveis pelas primeiras referências da área, os livros “Design with Climate” e “Architecture and Climate” e também criadores do termo bioclimatism. Há, porém, controvérsias nos que defendem que o termo se limita apenas a algumas características do projeto e não à sua essência.

Impasses à parte, hoje há ótimos exemplos, no mundo, da aplicabilidade e bons resultados da Arquitetura Bioclimática. Em sua maioria, são obras funcionais, contemporâneas e que se adaptam ao meio ambiente de forma ímpar, respeitando a projeção de espaços, visando sempre propiciar conforto e qualidade de vida.
Uma das metas é se valer dos recursos que a natureza oferece, para reduzir o consumo de energias não renováveis ou poluentes e encontrar maneiras de aproveitar estes fatores para ampliar a eficiência na obra. Quando se pensa em lixo há outro desafio: o de diminuir o desperdício e sua geração.
Ao se traçar um projeto de Arquitetura Bioclimática deve sempre se optar por materiais que não agridam o meio ambiente. Neste cenário, a tecnologia entra como uma aliada, na hora de definir soluções que podem contribuir para eficiência do próprio projeto e a redução de custos do empreendimento.
Esta harmonização do ambiente externo natural ao interno, ao ser construído, tem exigido dos profissionais mais estudos e conhecimento de áreas, que vão além do seu dia a dia, como meteorologia, por exemplo. Na Arquitetura em Saúde, os projetos que se valem dos conceitos da Arquitetura Bioclimática, as exigências são ainda maiores, pelas peculiaridades dos hospitais, logística de atendimento, fluxo de trabalho do corpo clínico e bem-estar do paciente.
A expansão de um hospital, por exemplo, deve, primeiramente, ser pensada na melhor adequação do edifício ao meio ambiente, considerando a eficiência energética e condições ideais de iluminação e sombreamento.
A topografia do terreno é outro aspecto que pode contribuir na construção de um projeto, com foco na sustentabilidade do edifício, ao se ter como meta a menor movimentação de terra, uma solução que contribuiu para a redução do custo da obra, ao mesmo tempo em que propicia melhores resultados estéticos, uma vez que tornou a edificação mais integrada ao perfil natural do lote.
A variabilidade ou estabilidade do clima é fundamental, por se ter mais ou menos horas de incidência de Sol na edificação ou em um dos seus lados, pois pode ser determinante no melhor aproveitamento da captação de luz natural e ventilação, com o uso de amplos panos de vidro, como uma das alternativas. Cores claras na fachada também contribuem no conforto térmico, pois estas tonalidades absorvem menos irradiação solar. A vegetação no entorno é outro fator positivo neste aspecto. Tudo sempre avaliado com cautela, dentro das necessidades e viabilidade da obra.
É importante se ter em mente que os projetos que se norteiam pela Arquitetura Bioclimática respeitem as características do local, e potenciais ações da natureza, como a circulação dos ventos, que interferem no resfriamento ou calor dos ambientes do edifício; a posição do Sol e sua influência no conforto térmico, aquecimento natural e iluminação, além da diversidade do clima nas diferentes regiões: montanhosas, vales ou centros urbanos.
O desafio é adotar soluções nem sempre caras ou inacessíveis, mas inteligentes, numa busca contínua da harmonização das construções com o meio ambiente.
Marcos Cardone – arquiteto titular da Cabe Arquitetos